Caminhávamos
em um fim de tarde cheio de risos e contentamento. Eu, feliz por estar
conhecendo uma cidade nova de belíssima paisagem, ar puro, paisagem verde,
estrada de areia em suas veredas de árvores frondosas formando um caminho de
sombras e vento agradável, na companhia de uma amiga em meias conversas de
muito entusiasmo.
De
repente ela parou, o sorriso sessou, o olhar perdido no nada de repente fixou
em algo, ali fincou seus pés naquela areia branca e solta que cobria suas
alparcatas, não se movia, não falava, em seu rosto desconhecia aquela
expressão, minutos atrás tão cheia de vida e euforia, agora parecia uma outra
pessoa, o que estaria acontecendo?
Não
tive nem tempo para ter medo, de tão assombrada que eu estava, eu nunca, em
todo longo tempo de amizade, tinha lhe visto com aquela expressão. Em frações
de segundo um mundo de pensamentos invadiam minha mente, o que ela poderia
estar sentindo... logo me propus a ajudá-la, seu rosto avermelhado com a voz
embargada, me falava de suas lembranças de outros tempos ali, na sombra daquela
arvore perto daquele passadiço, onde por muitas vezes passava com seus pais
quando criança, e ele sempre lhe contava a história daquele passadiço com
aquela voz alta dele, a risada estrondosa, aquele jeito de pai protetor e
feliz, contava que em uma manhã de primavera quando ela nascera, ele estava ali
trabalhando e saíra nas carreiras esquecendo seu feijão com rapadura, para
poder ver seu primogênito nascer, ele contava com muita graça, sempre lhe
aumentando algo, fazendo floreios, falava que tinha sido presenteado por Deus com uma filha, que
num fundo era o que ele desejava e só falava que era um menino pra surpresa ser
maior, contava que quando voltou no outro dia pra terminar o passadiço o seu
cavalo ainda estava ali terminando de comer a rapadura, que estava poupando, enquanto
pastorava as estacas para ele.
Ela
não continha as lágrimas, seu pai e sua mãe já haviam feito a viajem deles, já
não estava entre nós. Sem perceber eu estava também em lagrimas com saudades de
um tempo que não vivi, meu peito também doía, em minutos estávamos as duas em
profunda melancolia a vivenciar novamente aqueles tempos remotos.
Passamos
um bom tempo ali, mergulhadas nas lembranças dela que agora também eram minhas,
sem saber explicar aquela dor aquela saudade, me tocava no fundo da alma, ela
ia descrevendo as lembranças dela, e eu ia vendo em minha mente as imagens se
processando, era tudo tão real, que meu peito não aguentava tamanho sofrer, e
em meus olhos trasbordava a dor.
Como
pode um passadiço, uma paisagem, uma coisa qualquer, guardar tamanho sentimento,
carregando por tantos anos histórias cheias de emoções, de vida, que não se
perde com o tempo, de sentimentos tantos que nem a chuva nem o sol nem as erosões
dos anos conseguem arrancá-las, que natureza é essa que registra e armazena,
com perfeita precisão, sentimentos que adormecem com o tempo, e um dia, ao
tocar em nosso olhar, eis que, ali trazendo a vida com forte pulsação,
ressuscita, ressurge, volta a respirar o mesmo ar, a mesma brisa, se ver
criança de novo ao sentir o calor e o cheiro de outrora...???
Anna Lírios
Fotos de Maria Santos Cogo
***
Esse texto narra um momento que foi vivenciado por mim e uma grande amiga, ela me permitiu pôr em letras aquele nosso passeio, porém não querendo ser ela identificada, fiz como o sábio pai dela, escrevi fazendo uns floreios.
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Belíssimo texto amiga... Você escreve com a alma. Parabéns!!! Feliz dia... Vida feliz!!!
ResponderExcluirObrigada Amiga Aline Brandt!!! Paz e Luz!!!
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